domingo, 21 de fevereiro de 2010

Chuva e estáura, e árvores, e eu.

Ontem me purifiquei.
Tudo começou com um simples olhar pela minha janela, fim de tarde azulado, ás 17 horas que tanto me atraem. Fui olhar sem muitas intenções, só por olhar mesmo, sentir a nostalgia bater... da janela do meu quarto, hoje, eu vejo o meu quintal, a primeira parte dele, ja reduzida, delimitada, engradada. Lá eu me vejo brincando com meus brinquedos, nas minhas viagens lunáticas e cotidianas dos meus seis, nove, sete anos. Vejo depois eu pegando sol em vez de ir pra aula! Vi como mudei, cresci, e não só fisiciamente. Eu evolui. Mas, eu sempre fui meio diferente, chegada á anormalidade e necessitada de companhia. Vejo eu e uma grande amiga imitande as spice girls e depois compondo uma música tão ridícula mas cheia de significados... e os imaginando num grande show, com uma platéia vibrante. Entre tropessos, quedas e reerguidas, hoje eu vejo que esse era o show da vida.. e ele passou rápido, não foi? Nessa parte do meu quintal, tem uma estátua hoje meio encoberta pelas plantas descuidadas, uma coisa meio jardim secreto pra mim.. e essa estátua, viu tudo. Me acompanhou, presenciou, testemunhou tudo que aconteceu. E enquanto eu olhava pela janela ela olhou pra mim e falou, " vem aqui... vem, aproveita! Tudo isso vai ficar tão distante, a familiaridade desse lugar só vai poder estar dentro de ti. Então, aproveita!" eu olhei pra ela e primeiro eu respondi " não... só de olhar daqui da janela do meu quarto já é o suficiente!"
Ai então começou a chover, aquela chuva belenense, chatinha...que eu tanto reclamei, e olha que eu não sou de reclamar, mas como eu reclamei dessa cidade! Que ingrata... falei, falei, falei e vou sentir falta afinal. É um fato, vou sentir falta. Talvez não da cidade... mas,, dos momentos, das pessoas, desse clima que só essa olhada pela janela poderia me trazer. Da minha janela, do meu quarto. Que no instante seguinte, talvez, nem seja mais...
Então a estátua olhou pra mim e falou de novo "não vais aproveitar essa chuva? Lembra de quando era só nós duas aqui? nós tomávamos muitos banhos de chuva... e eu te acompanhei em tudo isso, e agora? vais me abandonar? assim, sem ao menos se despedir? " E ai o peso na consciencia começou a falar também... me disse que eu não poderia ir embora sem isso e que aquele momento exigia muito mais do que aquela minima brecha de imensidão, aquela janela não era o suficiente afinal. Eu não podia mais ficar parada ali, então coloquei a cabeça pra fora e senti os pingos...mas ainda não era o que eu precisava, tentei colocar o corpo pra fora mas vi que não dava, ai eu hesitei.
E porque, logo eu, hesitar? Medo? Que loucura era essa... eu NÃO sou assim! Então eu corri, abri a porta do quarto e passei pelo corredor cheio daqueles quadros com olhos bem atentos em mim, desci as escadas que cai e pulei tantas vezes, passei por mais quadros, pelo chão, pelos sofás.. todos pareciam gritar "VAI!". A porta quase abriu sozinha pra eu passar... ai eu entrei, mergulhei com tudo naquilo.
Era tão GIGANTE e eu parecia tão pequena mas ao mesmo tempo tão singular. Como uma peça de quebra cabeça eu tinha que ser assim se não, não encaixava. Então eu deitei no chão, e deixei a chuva molhar, não me importando mais com a sujeira ou com o passado fincados ali, porque a chuva foi caindo e levando consigo tudo que eu tinha de ruim. Os sentimentos de medo, angustia, incerteza se esvaíram. A estátua olhou pra mim e quase inconscientemente disse "agora vai... segue teu caminho, busca teus objetivos. Mas, volta, volta que SEMPRE vais ter aqui teu porto seguro, vais poder pegar teu barco a velas que por mais que tenha viajado todo esse mundo e enfrentado as piores coisas, e oscilado nas piores tempestades... aqui tua ancora é sempre bem vinda. Busca teus horizontes, mas não esquece tuas raízes".
Então eu gritei, pulei, girei. E me senti livre pra partir, com a certeza e a esperança de retornar, não pra sempre, mas pra viver coisas como essas...


Assim... meio que... inesquecíveis.