domingo, 7 de novembro de 2010

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Constantemente me pego me traindo da pior maneira que poderia faze-lo.
Eu falo demais. E essa é a minha arma, a minha armadilha contra eu mesma.
Tenho uma necessidade vital, brutal e arriscaria dizer até viceral de dizer o que penso, e mais (e pior) dizer o que sinto. Não consigo me desatar de um pensamento subconsciente que me diz sempre que o melhor caminho é o há comunicação, o que desvaloriza segredos excessivos e joguinhos de sedução. E ocasionalmente com frequência me fodo. É tipo como se tivesse um botão daqueles enormes e vermelhos que não tem como não apertar escrito com letras brilhantes "fuck me", bem no meio da minha testa, e o pior é que não são as outras pessoas que apertam, é uma unica idiota, idealista irreversível, sonhadora invencível: eu.
É uma coisa meio "como pode alguém ser tão demente, porra louca, inconsequente e ainda amar?" que o Cazuza disse e que se encaixa perfeitamente com o meu perfil.
Mas, partindo dessa informação extremamente necessária, pode-se concluir por que eu sei que não deveria falar muitas coisas que eu falo.
Eu não deixei de acreditar que a comunicação é o melhor caminho, por realmente achar que se as pessoas falassem mais se entenderiam melhor. Mas, penso também que a gente deveria tomar mais cuidado ao expor nossas fraquezas, pra que elas não sejam usadas contra nós mesmos posteriormente.
Eu passei a valorizar os segredos mais do que antes, por que eles existem para não serem contados por isso, respeita-los é fundamental para uma boa convivência com eles.
E eu simplesmente abomino, tenho asco de joguinhos de sedução e me recuso a usa-los a não ser que a unica opção seja: usa-los ou me machucar.
Mas eu queria saber por que as pessoas dizem coisas querendo dizer outras? Ou agem de uma forma pra atingir um ponto que está mais a frente do que a ação presente?
Mais uma vez eu levanto mais questões do que as respondo, como Ibsen.
E isso é a melhor forma de sair de nem um lugar e chegar a lugar nem um.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Da cama para barcelona.

De repente é como se a minha cama fosse uma espécie de santuário, altar, igreja, qualquer coisa do gênero. E não por que tenha acontecido milagres e bençãos, é mais uma coisa atrelada ao sofrimento e à súplica.
Tenho pedido toda noite quando me deito pra que essa inquietude passe, e passe ligeiro, coisa que eu nem sinta. É um pedido tão cheio de alma, mas é tão irônico também, na medida em que penso que nesse mesmo lugar que suplico, foi onde tanto sofri.
Um dia você está em casa, na sua cama, e se sente tão bem com o conforto e no outro se vê aprisionada por memórias perturbadoras que te atacam na madrugada quente. Era como se nada fosse acontecer, mas parece que a gente não quer enxergar quando vem vindo a catástrofe. E por mais, mais fundo que a gente tente se cegar o corpo só nos ensina a ser mortal.
E nesse momento é que percebemos o quanto o corpo, as sensações, as reações corporais falam mais alto que nossa ridícula e minúscula razão. E aí é...

Vômito
Lágrimas
Dor


o diafragma se contorcendo

Cansaço
Angústia

Mágoa


a respiração ofegante o palpitar acelerado do coração

Decepção Frustração

coisas que não
quero
ouvir
nem
dizer

A dificuldade de expressar
os sentimentos
adormecidos





E tudo isso tão aqui.
tão perto.
tão eu.
tão.



Vou jogar minha cama pela janela, pedir aposentadoria, viajar pro caribe, beber um ano seguido, compras 20 ventiladores, adestrar lagartos, caçar borboletas, enxugar meias, levar tatuagens para passear, virar um homem, trocar de pele, tocar violão debaixo do pântano, viver em comunidade de águas-vivas, namorar o pinóquio, vou ser professora de yoga no Iraque, vou pegar a Vick, a Cristina, Toda a Barcelona. Mas juro, juro, que não vou enlouquecer. Não de novo.

domingo, 10 de outubro de 2010

Você, só.


Às vezes penso que me desapaixonei (seria certo dizer isso?), mas aí vem aquilo que chamam de saudade, misturado com uma vontade absurda de você. Aquilo que dá nos fins de tarde rosados ou nos domingos que passamos em casa.
No primeiro caso por que nesses pôr-dos-sois (?) tudo é tão lindo que não tem como não querer a sua presença, não tem como não querer o seu jeito envolvente, o calor da tua pele morena suada, os teus pêlos, os teus gestos. Acho que nesses casos, não queria nem ouvir você falar, só admiraria tua beleza, e as nossas almas se misturariam tão silenciosas, sorrateiras sorririam da nossa sorte convergente.
No segundo caso é a sua falta que fala mais alto, é quando o tédio me domina e eu penso como seria bom se você tocasse uma música e cantássemos juntos o nosso amor. Como seria bom se ficássemos horas conversando sobre a evolução do mundo, ou sobre a natureza, ou sobre qualquer coisa. Como seria bom a nossa descoberta mútua, catalizada pelo nosso não-fazer nada.
E é uma vontade tão forte, parece um pouco com fome ou com sede. As vezes sinto-me como viciada em qualquer droga, que no meu caso seria você. É quase uma necessidade, na beira de um desespero.
Mas, aí no meio desses sentimentos ruins, vem uma sensação doce. É quase uma certeza, não, é uma certeza. De que no fundo, em algum lugar das nossas vidas estamos juntos. É assim como uma esperança de um futuro próximo, ou uma memória feliz de um passado distante.E, então, de súbito, percebo o quanto que ainda sou apaixonada. E o quanto que isso pode existir sem sofrimento, e simultâneo a outros sentimentos, à outras pessoas.
É reconfortante, acolhedor. É grande e poderoso. Me domina. Como você.
Só você.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um paradoxo sobre mim.


Eu sou dessas pessoas que não ligam para o tempo, não ando com relógios, esqueço meu celular nos lugares comumente, não me importo mesmo. Em uma frase consigo dizer muito "não", pois vivo negando o que algumas pessoas acham que é certo, e bloqueando idéias exteriores ao meu mundinho.
É, meu mundinho. Um tanto quanto vazio e um tanto quanto cheio. Pra mim na verdade é muito mais cheio, de mim mesma. Do meu egocentrismo aguçado. Mas, para alguns é um mundo vazio, solitário.
Eu também não me importo com a solidão. O que muitos acham tão amargamente torturante para mim é na verdade acolhedor. Nas noites a escuridão me abraça num silêncio que têm ao mesmo tempo volúpia e conforto.
Não que eu me importe muito com essa questão carnal, do desejo mesmo... estou muito mais para frígida. Até por que na maioria das vezes as relações interpessoais associadas ao desejo estão intimamente atreladas a certo desconforto. Por isso, a solidão me basta.
Nunca fui de ter relações de intimidade com outras pessoas, não sei se por não conseguir. Mas acho que está mais compactuado com minhas opções de vida.
Eu gosto do bastante, e ando justificando muito o bastante na minha vida. É uma forma de dizer que tenho o necessário para ser aceita por eu mesma. Não diria que tenho o necessário para ser feliz por que, na realidade viceral, nunca fui feliz. E desconheço essa tal de felicidade absoluta.
Pelo menos no universo que me encontro ela nunca existiu.
O que existe às vezes é um cigarro no fim da tarde, escondido, coisa proibida. É, até que eu gosto dessas aventurinhas. Me deixam com um quê de louca.
Existe também uns jornais velhos espalhados pelo chão, meu diário e nutella com morango.
Essa é a melhor forma de viver...
Só que essa, absolutamente, não sou eu.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

For do umbuzeiro
















Ai, a esperança...
A esperança é detalhe. Um detalhe ao mesmo tempo desejado e não-desejado. É uma força que nos agarramos o mais forte que conseguimos para não jogar pela janela os nossos sonhos e ao mesmo tempo uma fuga para nossas desilusões. Ela brota singela, como um botão de uma flor no meio da caatinga, é um detalhe quase imperceptível dada uma primeira olhada geral àquele campo seco. Mas, que quando se aproxima, se admira, se observa e principalmente se percebe, faz toda a diferença. É o ponto mais bonito, o ponto mais extremo de contradição.
Quando a existência daquela flor, inicialmente mínima, é notada... Não se olha mais para nada ao redor. Esquece-se que existe mazelas no mundo, a seca passa a ser insignificante, a dor que antes latejava fortemente é agora somente um aviso que diz "cuidado: possível desilusão a vista" mas, quem pensaria em qualquer mal que aquela flor pudesse causar? Quem ousasse ser tão pessimista? Obviamente na hora se censuraria!
E então, de súbito aquela centelha de "final feliz" atrai de volta o verdadeiro sentido da sua dor: a especulação. E você, mesmo que sem querer, passa a achar mais graça no mundo, e dizer pra si mesmo "por que não?". Eu imagino que essa flor metafórica seja branca, como a cegueira... uma espécie de clichê maldito, digamos que uma luz no fim do túnel. De repente desvencilhar-se é tão difícil, e aquela sombra de ser realista e racional de uma semana atrás desapareceu.
E aquilo que sempre foi genuíno ao meu coração, ocupa seu lugar de origem. A paixão é coisa que se restabelece, é coisa predeterminada, é coisa enigmática. Não adiantaram os mil esforços para ir contra essa onda de turbulências dentro de mim, elas reviram meus órgãos, me colocam do avesso.
É um sofrimento tão comum, tão meu... que me pergunto: Será que sofro mais assim, ou quando não estou amando?

sábado, 25 de setembro de 2010

Pássaros negros no horizonte




Sem mais delongas, admito que o amor esteve aqui.
Passou breve, com um ar de apressado, como um cumprimento de longe.
Aquele cumprimento que você não espera encontrar, e que mudou o resto do seu dia.
Que nunca mais saiu da sua cabeça. Como a troca de olhares, rápido, porém profundo.
Um vislumbre de um pouco mais de poesia, acrescentou-lhe a vida.
Como numa praia deserta, que em um dia de frio, paira uma cor de azul e verde pálido,
E no horizonte um bando de pássaros negros infringem a neutralidade passiva.
As ondas espumantes quebram com vigor e nos inundam com sua devastidão
Trazendo uma sensação de aprofundamento na alma, uma coisa que você vive sozinho.
Essa paisagem é uma admiração solitária, como esse amor.
Faz-se mil rodeios e metáforas para compreender-se,
E no fundo não se compreende por completo.
Há uma ausência incomoda que reina no instinto da curiosidade
Que espera, inconscientemente uma resposta.
Um retorno inútil, uma réplica qualquer a sua dor.
Quem crava na alma essa encomenda de amar,
Não se preocupou com o seu depois,
Ou se o fez, não viveu o seu agora.
Passou, mas deixou rastros que só na névoa matinal desaparecerá despercebido.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Reticências


A gente se acostumou à insatisfação de uma forma totalmente nociva.
Hoje recebi uma notícia que eu não esperava, porém desejava muito que acontecesse... Minha atitude imediata foi de muita euforia, muita alegria. Ótimo, perfeito.
E então começaram a surgir mil planos e conseqüências que partiriam desse fato isolado e novo na minha vida, só que de todos os caminhos que poderiam ser tomados haviam muitos de tristeza, decepção, solidão afinal. E por que?
O que é esse drama sufocado? Essa tendência a se preocupar com alguma coisa que pode ou não se tornar real é uma constante indesejável. Pra começar que eu deixaria de VIVER o meu momento de felicidade, de criação de um futuro, de imaginação... era um começo de auto censura.
Então eu pensei comigo mesma, "não, dessa vez não vou deixar que meus pensamentos se precipitem em uma corrente negativa de insegurança". No decorrer do dia ainda tiveram momentos de fraqueza, que esses pensamentos invadiram minha mente, mas em outros eu cheguei a nem lembrar dessa nova situação que me tinha sido apresentada. Que por acaso poderá mudar muito as coisas... Mas p-o-d-e-r-á. De possibilidade. De 50% sim, 50% não.
E agora eu me sinto mais leve de ter pensado dessa maneira, qual é o problema da espera? Ela é assim tão insuportável? Ou será que a nossa geração imediatista a transformou em um fardo?
Existe também um lado bom de esperar, um lado lúdico... o "não saber" é de certa forma gostoso, tem uma pitada de aventura, de novidade. E a gente que vive falando que quer ser surpreendido, na maioria das vezes não se deixa ser. E nisso me incluo mas, como pensei hoje também, dessa vez eu quero fazer tudo certo. Ou quase lá.
"Deixa ser como será" Los.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

As mãos e os cigarros que me inspiraram


Todo mundo precisa de um pouco mais de poesia.
Eu gostaria que as minha memórias fotográficas me inspirassem, cada vez mais e mais.
Como a natureza que é tão grandiosa que torna, nossa existência quase esmagadora. Com seu verde imponente em contraste com o balançar calmo das folhas. Com um outono amarelado combinando com o grande por-do-sol douradíssimo.
O que seria de mim se toda tarde fosse uma tarde no Central Park, no Pelourinho, em Salinas ou aqui pertinho no Arpoador? A vida é cheia de estímulos presentes e próximos, o importante é se aperceber deles...
As vezes as mãos podem ser subestimadas, ou colocadas em planos práticos. Mas são as mãos que trazem mais graça, leveza e força à nossa arte. São elas que tocam o Moonlight Sonata, que pintaram Monalisa, que encantaram platéias com sua energia, que bagunçam o cabelo e que fumam um cigarro. Tudo isso tão poéticamente.
Existem cenas do nosso dia-a-dia que precisam ser valorizadas, como o encontro daqueles olhares... um teatro cheio, um no palco e outro na platéia, o explodir das palmas nos ouvidos e os olhares se cruzam, assim como os destinos. O que nos faz conhecer alguém, apreciar, apaixonar, aprofundar? São os destinos cruzados. Eu gostaria de não deixar escapar nem uma pessoa que passe pela minha vida, por que sei que cada um tem algo à acrescentar, e por mais que eu queira, algumas pessoas já cumpriram seu tempo na minha vida e já me ensinaram tanto... Assim como já devo ter passado na vida de algumas pessoas deixando rastros de mim mesma.
Não quero passar despercebida, por que gosto de me atentar aos detalhes, me preocupo para que eles sejam notados em mim e nos outros. Ando meio desconexa, e é por isso que esse texto se faz tão confuso, desculpem-me por isso, mas de vez em quando o melhor é só deixar o pensamento sair.







E por mais sem sentido que isso possa parecer, talvez, nos detalhes o milagre da compreensão aconteça.

domingo, 25 de julho de 2010

Pequena Grandiosidade


Hoje mais ou menos seis horas da manhã, pisei no calçadão do arpoador. Ao chegar o céu estava escuro e do meu lado direito eu via lua se pondo, e fiquei intrigada com esse fenomeno tão raro na minha vida, por que essa hora eu geralmente estou dormindo ou ocupada com outras coisas. E tava tão lindo! Uma lua linda, grande e amarela.
Fui andando e do lado esquerdo começava a clarear um céu matinal. Eu respirei fundo, e com o barulho das ondas como inspiração pensei na pureza daquele momento, o ar que entrava pelo meu nariz parecia inundar todo o meu corpo e minha alma de algo que não sei explicar o que era.. pureza mesmo, eu acho. Me senti limpa, parecia que em cada inspiração eu me renovava, e o melhor de tudo é que na expiração eu não parecia perder a energia e sim devolve-la ao universo de forma a acrescentar algo de positivo.
Nesse momento eu me apercebi da importância que tenho para as energias do mundo, e a recíproca disso. Cada pessoa é uma peça singular nesse quebra-cabeça energético, cada um emite uma coisa só sua para contribuir de alguma forma numa perspectiva maior. Olhando de uma forma "micro", o meu ser era inundado com tudo que estava a minha volta, e eu sentia como se fosse explodir de coisas boas! Meu Deus, que sensação incrível! E transportando isso para uma forma "macro" toda energia contida em mim, eu queria exteriorizar para todos os cantos desse universo. Complexo, muito complexo.
Mas foi essa a maneira que encarei essa recarga de energias vindo da natureza diretamente para mim.
Na maioria das vezes a gente se deixa passar desapercebido por tudo, fica pensando "mas será que isso vai acontecer comigo?", ou então que a gente não faz diferença nem uma e que não muda nada. Enquanto que a verdade é que tudo que a gente transmite, passa a ser real.
Hoje pensei em milhares de coisas boas para toda humanidade, e quero de verdade que esses pensamentos tenham sido levados pelo vento frio, pelas ondas, pelos pássaros, pelas pessoas.
Além de todos esses pensamentos amplos, eu queria também ter desejado amar aqueles que estão perto de mim da melhor maneira possível, respeitar o próximo, saber conviver com as diferenças e adversidades. Tem tanta coisa que é preciso pra melhorar tudo, mas eu quero sempre pensar que eu posso colaborar de alguma forma, pra que nunca me deixe cair em um comodismo sínico.
Como já diria o grande mestre, Nelson Rodrigues: "amar a humanidade é fácil; difícil é amar o próximo", realmente é. Mas a gente tenta..

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Mulheres indomáveis: Mulheres.






Mulheres... O que eu poderia falar sobre nós?
É completamente impossível querer generalizar as mulheres, mas uma característica temos em comum, todas as mulheres necessitam ser fortes para sobreviver.
A começar com o fato de se tornar uma mulher. Como as meninas se tornam mulheres? pergunte a cada menina que você conhecer, que tenha se tornado mulher, e ouvirá milhões de respostas diferentes. Algumas dirão aspectos físicos, como menstruação, ou o crescimento dos seios. Outras associarão ao rompimento do hímen. Eu diria que me tornei mulher, quando meu psicológico aceitou a idéia e acatou com muita ênfase.
Quando passei a respeitar a mulher que sou, e valorizar-me, eis que uma mulher surgiu.
Todas as meninas dão lugar às mulheres que existem dentro de si, quando são testadas pela vida, quando necessitam fazer aparecer sua força, sua perseverança, sua garra. Se todas essas características não fossem atribuídas a nós, não existiria um ser vivo no universo, por que para semear vidas, cultivá-las e amadurece-las é preciso não uma ou duas, mas milhares de mulheres.
A primeira mulher é a mãe, que "gera seus filhos em meio a própria dor". Depois todos os braços femininos em que as vidas percorrem até chegarem ao momento de seguir sozinhas.E então, uma mulher feita, com todos seus truques.
Dentro de mim, tenho um milhão de possibilidades de existência feminina, sou em algumas ocasiões cigana, ás vezes sou uma hippie antigona, sou muito menina, entre muitas outras. Gosto de ver as personalidades das mulheres ao meu redor, por isso me enriquecer de uma forma que não consigo explicar.
Toda manhã, quando entro no vagão das mulheres no metrô, fico observando cada uma. A forma com que a sobrancelha é tencionada, uma ruga a mais no canto dos olhos, a cor do cabelo, as unhas.. Ah, como as unhas falam das mulheres. Primeiro por que, mostram o nosso fraco para a vaidade, um quê de necessidade de aparência agradável. Depois, por que a escolha da cor da unha, diz muito sobre o que a mulher está sentindo, ou a que público quer atingir. (Sim, mulheres em geral precisam de um platéia, sejam ela formada por marido, filhos, amigas ou animais).
Cores claras como renda, branco, bege, rosinha vão para as mais delicadas, ou que querem parecer delicadas.
Preto, para as rebeldes, ou que estão pensando sacanagem.
Vermelho, geralmente para atingir algum homem com pontos fracos com essa cor. E também por que é muito bonito.
Rosa pink, laranja, verde, azul, amarelo para as alternativas, veraneias, na moda, etc. (amo!!)
E por ai vai.. mas pra quem pensa que as mulheres são só esses milhões de aparatos de moda, roupas e futilidades, tente desconstruir tudo isso, e vão achar uma beleza que não pode existir em outra raça. É uma verdade universal, um tipo de força que envolve todos esses seres tão misteriosos, tão fascinantes.
E, eu poderia falar horas de todos os conflitos que uma mulher pode passar, tudo o que vem de ruim que nos torna cada vez mais forte. Mas prefiro deixar aqui, minha marca registrada de admiração a TODAS AS MULHERES DO MUNDO. Que a cada dia que passa, e como nunca, me encantam com suas capacidades de se reinventar. E que nem uma mulher possa um dia se deixar abater por falta de valorização, ou por algum tipo de menosprezo.
As vezes penso que queria ser homem, e que seria tudo bem mais fácil. Mas, "ser assim é uma delícia".

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Mulheres indomáveis: coroação lilás.


" Minha juventude transpassa por várias variações de humor, entre grandes depressões e euforias, eu encontrei uma pessoa, só uma que me deixava estável. Tinha uma barba mal feita, e é assim que eu posso descreve-lo melhor, por que aquela barba... ah, aquela barba mexia comigo de uma maneira indecifrável! Mexia com meus sentidos, de uma certa forma que meu humor, muito vacilante, ficava péssimo quando ele a tirava. Bons tempos. Mas de toda minha jovialidade, de todo meu gás, de todos os meus dias e estações, uma noite me prende em memórias deliciáveis e um tanto quanto nostalgicas. São a semente que o tempo plantou em mim.

Tinha um apartamento em reforma, um colchão com plástico ainda, um quarto branco vazio, fazia frio... nós dois prometemos não ultrapassar nossos limites, queriamos só ficar juntos.Conforme o tempo foi passando ou a nossa presença, um para o outro, era muito forte. Ou o nosso desejo era incontrolável. Fomos ficando cada vez mais próximos, minhas terminações nervosas clamavam pelas dele, e acho que era recíproco.

Minhas pernas abertas formavam um trono, ele parecia seguir para sua coroação... seu rosto afundou em um trono sedento. O movimento era quase que poético, sincronizado, perfeito. Era uma névoa lilás, que envolvia aquele gesto com tanto significado. Eu não precisava de mais nada, tinha minha matéria totalmente satisfeita e um lúdico, um irreal que passava na minha mente.

Um príncipe, coroado com meu clitóris.

Depois deitados, sentindo a respiração um do outro, pensei que não conseguiria sair dos seus braços nunca mais, que adormeceria em sono profundo, e que meus sonhos seriam cheios de margaridas, chá das cinco, biscoitinhos. Seria de época, seria branco. Eu estava em um tipo de extase que tudo que eu mais amava iria brotar em meus pensamentos, mas aquele dia estaria em um ponto mais alto, estaria muito mais brilhante.

A dimensão era outra, parecia que não faria parte de mais nada, que não pareceria com mais nada. E, fatalmente, não pareceu. Eu sonhei com aquela noite, vários sonhos inquietos, várias vezes acordei suando, revoltada e outras conformada com aquilo que ja tinha sido, e com o que viria. Ninguém mais bateu na minha porta e me ofereceu tanto como aquele dia. E só não tenho muito o que falar o fato, o acontecimento, é simples, pequeno mas dimensional. " depoimento de C., uma idosa nostálgica.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Mulheres indomáveis: viciar-se para salvação.


"Entre as cortinas e a poeira de um teatro antigo, um grupo de jovens atores se reunem para ensaiar uma mistura das suas idéias com um pouco de lixo cenico. O grupo é composto por dois atores e uma atriz. Que infelizmente se apaixona pelos dois.
Os homens não demonstram sentimento algum, nem ela. Mas o problema é que ela sente... castrando-se da possibilidade de ficar com os dois, decide escolher um, estipula uma meta de um mês para ponderar qualidades, defeitos, afinidades.
O primeiro era mais velho, experiente. Tinha uma voz grossa e imponente, quando a pegava em cena era com muita brutalidade, másculo. Ela via proteção nele, mas também uma agrecividade de personalidade incrível, a paixão por ele era devastadora. Se fosse imaginar como seria o sexo, seria selvagem. Seriam naturalistas, animais.
O segundo era mais... sensível. Calmo, voz mais branda. E ele não era carne, não só carne, era sentimento. Pra ele, e por ele, ela guardaria as lágrimas, as pétalas, os perfumes. Guardaria seu beijo, seus olhos, seu amor. Não o seu ventre. Ela o via quase imaculado, mas também o via distante.
Teve, inegavelmente, casos com os dois. Um a possuiu nos braços, o outro no coração. Após um mês de orgias, álcool, inquietude.. ela decidiu-se pelo segundo. Estava disposta a entregar as fichas, abrir mão do primeiro e de todo o resto por ele.
Final feliz? Não. E não era feliz por que a distancia era continua, constante. Ele sabia que podia possui-la, que a dominara. Mas parecia não querer. Antes de entrarem em cena se davam uns beijos sem a entrega dele, nas cochias, e a pressa pra que acabasse era evidente. Inconformada, ela saia do teatro todos os dias chorando, fumava um ou cinco cigarros e voltava reconstruida, decidida de novo a tentar conquista-lo. Inútil, todas suas tentativas eram seguidas por uma distancia ainda maior. Então porque ele não dizia que não a queria, por que não a negava mas também não a aceitava de vez?
Os meses passavam e tudo o que ela recebia era uma migalha da sua atenção. Um dia resolveu ir embora mais cedo e eles ficariam ensaiando. Lá fora estava chuvendo forte, e o frio fazia até os ossos tremerem, enquanto andava na rua admirou casais de namorados que se esquentavam e protegiam-se. Uma súbita vontade de estar perto dele, e de cobrar tudo aquilo apoderou-se dela, deu meia volta e foi correndo para o teatro. Tanta raiva que nem sentia mais o frio.
Chegou no teatro, ouviu gritos de prazer. Orgasmos auditiveis. Que estranho... foi entrando, devagar agora, por que a curiosidade tomara suas rédeas. Entre olhou pela cortina lateral e ponto. Choque, choque, choque. Absurdo, absurdo, absurdo. Desejo de vomitar, embrulho do estomago, lágrimas, boca entreaberta.
Estavam os dois se amando, se desejando. Mordidas, beijos, agressão. Penetração. Falavam juras de amor e sacanagens ao pé do ouvido. Riam da sua desgraça, riam de como fora tola, ingenua. Falavam 'ela acreditava mesmo que poderia usar nós dois, veja só quem foi usada'. E riam, um riso que penetrava sua mente, corroendo primeiro seu celebro, passando para sua garganta e triturando suas tripas e seu coração. Esses risos seriam eternos, enquanto ela vivesse.
Saiu de la, quase arrastada, por que não aguentaria mais um segundo. E tudo fez sentido. TUDO. Ele só estava com ela para uma autoafirmação, uma maneira de mostrar para uma sociedade hipócrita o quanto que ele mesmo era ridiculo. Não a amava, nunca amara. Os beijos eram rápidos para não incomodar o outro, que era cumplice. E na sua mínima distração, eles guardavam todo amor que não podiam dar a ela. E riam, riam, riam.
Nunca mais voltaria aquele teatro, nem aquela cidade, nem a nem um dos dois. Foi o que pensou da primeira vez. Mas, no dia seguinte acordou vestiu sua roupa, e foi ensaiar. Fingiu que nada tinha acontecido, fez as cenas e simplesmente os ignorou, a sua profissão estava acima disso tudo.
Anos depois ela dizia em aulas que ministrava a adolescentes 'Não se apaixonem por pessoas. Se apaixonem pelo teatro' e pensava 'poupem seu sofrimento'.
A hipocrisia domina tudo quando você se deixa levar, é viciante. Heroína, hipocrísia. Heroinisa."

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mulheres indomáveis: molhada e ardendo.


" Em mais uma tarde quente estavam os dois, em cantos de um apartamento pequeno. Distantes em um cubiculo, cada um em seu mundo individual de dúvidas, inseguranças, sentimentos. Extremos? não sei se chegava a tanto. Ela pensava frenéticamente, não estava tão calma como externava, muito interiorizada, ela respondia quando ele perguntava quase mecanicamente. Não tão robótica por que seu coração dava saltos toda vez que em uma pergunta distraída ela tinha um vislumbre dos seus malditos olhos.
Na verdade, o problema maior talvez fossem aqueles olhos que ela tanto buscava. Rebecca sempre dera importancia a olhares, e os admirava, mas nunca sentira necessidade de um antes. Agora sim. Toda vez que naquelas tardes aqueles olhos passavam por ela era como se tivesse 3 segundos ou menos pra afundar-se na alma dele. E que alma complicada!
Uma alma não muito solícita, não muito aberta, um mistério a ser desvendado. Toda vez que ela achava que começara a entende-lo, recebia em troca uma informação inesperada. Das duas uma ou ela estava se surpreendendo demais, ou havia idealizado tanto ele que agora tinha que desconstruir um personagem vindo diretamente dos seus desvaneios. Nem uma opção a agradara, ela devia estar vendo coisas onde simplesmente não existia nada. Como sempre, equivocada.
Já que não podia recorrer ao olhar todas as horas, o olhava desviar o rosto. Ele lia, olhava em outras direções. Seu olhar tinha mais medo, do que expeculação. Ele recuava, não é bem ignorar.. ou é? Olhou então pela janela, e desta viu outras mil e umas janelas. Cada uma com um contigente vital de outros destinos. Um lustre antigo, combinando com uma idosa solitária no andar de baixo. Brinquedos, vestigios infantis, um homem nú. Sol nas paredes e cortinas orientais.
Cansada olhou em volta, estava sozinha enfim. Mesmo que ele estivesse presente. Fazia um calor insuportável, e os dois suavam em bicas. Ela deitou-se no chão, suava tanto que uma poça foi seu agregando ao seu corpo, ele a viu e simplesmente deitou-se ao lado, indiferente. Ela recostou-se nele, molhada e ardendo. Ele até a acatou, mas como um objeto, um vazio de sentimentos que não eram levados em consideração. O suor fluiu de um para o outro, durante o toque.
Um afastamento brusco. Lágrimas. Incompreensão. Uma porta que se bate, um último vestigeo da sua roupa preta de luto pela existencia. Descendo as escadas correndo, andou sem direção até o metro mais próximo e desconhecido. Entrou em meio a um vagão lotado de almas vazias. Ficou de pé até a estação que deveria soltar e que quando chegou, sentou-se.
Foi procurar um rumo, que não existia. Foi até a última estação e voltou para a de perto da casa dele. Parou no portão da frente, analisou suas possibilidades e resignada pousou sua cabeça entre jornais e mendigos.
A espera é eterna. "

Apenas imagine.

sábado, 24 de abril de 2010

Mulheres indomáveis: cinzas inválidas.


" Andou sem direção, afinal se ela tivesse seguiria, mas não tinha. Parou em uma pedra de onde se via o mar, ela sabia que ele havia estado lá anteriormente. Ficou imaginando o que teria passado pela sua cabeça com aqulea visão tão bonita, ele teria pensando nela? Apesar de querer acreditar que sim, um NÃO bem grande ecoava em sua cabeça. Cansada de expectativas frustradas, ela simplesmente buscou inspiração na natureza, porque nela havia perfeição. No amor, não.
Os contornos que o mar fazia nas montanhas, o deslizar das águas nas pedras, o balanças das árvores com os ventos. Um verde que inunda a alma transbordou seus coração, mas la em um cantinho escondido ainda estavam sentimentos ruins sim, mas que faziam parte da vida afinal.
Lembrou-se de como em noites anteriores, eles estavam abraçados, rindo de besterias. Mas acabara. A busca por novos rumos era sua maior dificuldade, o que fazer quando voce anda de bengala a vida toda e sem mais nem por que sua bengala é arrancada a forças? Arrastar-se era sua única saída agora? Não, por mais que ela não andasse sozinha a muito tempo, nunca desaprendera a andar.
Lembrou-se que tinha aula de ballet e que estava potencialmete atrasada, Carolina sempre fora totalmente metódica e disciplinada. Atrasos eram inadimissiveis. Mas diante de toda a a sua vida retilinea, eis que surgia uma instabilidade. Ela nunca acreditara que qualquer coisa que fosse a abalaria tanto, calma olhou em volta. Quanto tempo fazia que ela não observava outras pessoas? Estranho pensar no isolamento que ela praticara com o resto do mundo durante os últimos anos.
O Eduardo a deixara deficiente.
Uma deficiencia que acentuou com o passar dos anos que estiveram juntos. Pra começo de conversa, assim que deram o primeiro olhar... ele a cegou. Ofuscou todas as possibilidades dela olhar para outro alguém que não fosse ele. Após a cegueira, veio a fala, que com o tempo sua voz ativa perdeu-se. E ela passou a falar através da boca dele.
Seus ouvidos também não escaparam, por que ela só ouvia o que ele tinha a dizer. E, finalmente chegamos na bengala. Seu corpo movia-se sustentado em uma begala chamada Eduardo. Seu coração quase parou de palpitar quando ela perdeu seu equilibrio.
Mas o que Eduardo não havia tocado era um pedacinho minusculo de razão que lhe restara, e ela se agarrara a esse pedaço de massa cefálica como sua última esperança.
Sem coração, sem equilibrio, as cegas... Carolina vive em um mundo cinza. Muito mais racional do que antes.
Amargurou-se de tal forma com que todas as pedras que jogassem nela fossem parte de um plano de salvação. Quando o que ela menos percebia é que não havia salvação, depois de Eduardo, agora sim: ela ja estava salva. Livre. Fora do alcance.
Quando perceberem, quando ela mesma perceber... Que mudanças se acometerão ao seu mundo cinza? Não se pode ter todas as respostas. "

Apenas reflita.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mulheres indomáveis: insensatez embreagada.


" Mariana amava demais, imaginava demais, ria demais. Ja foi meio desesperada, meio desapontada, hoje é muito mais inteira do que metade. Se completava em Francisco como nunca antes, via como sus almas eram siméticras, o quanto eles tinham a se doar.
Mas ela não prestava, não para o que ele queria. Ela bebia, fumava, transava, cantava, dançava. Fazia o que queria e nesse momento ela queria liberdade! Queria desempedimento, compromissos falhos, não queria horários. O único problema é que Mariana não cansava de apaixonar-se. Eram padeiros, carteiros, engenheiros, advogados, publicitários, cantores, bailarinos, gays, amigos, amigas, atores, atrizes... meninos e meninas. Ninguém estava a salvo das paixões devastadoras de Mariana. E tudo isso poderia ser individual, mas na maioria das vezes era simultaneo, não se preocupava em amar só uma pessoa por saber que ela nunca conseguiria dar todo o amor que tinha dentro de si pra um só. Assim ela teria que amar até os defeitos dos outros, e isso ela respeitava, mas amar já era demais. Era assim que ela pensava, então quando estivesse amando alguém e que os defeitos começavam a lhe encomodar, ela simplesmente transferia parte do seu amor para outra pessoa.
Não se classificava como nada. Não se limitava. Mariana simplesmente, vivia. Sem juízos finais, purgatório, sem religião. Fé ela tinha, e acreditava muito nisso: apenas agradeça. O que vier a gente desdobra, ajeita, arruma. Não sabia o que pedir, nem o que esperar. Também não achava que tudo estava tão irreversívelmente decretado, como os gregos antigos. Não era tão adépta do livre arbítrio associado ao pecado. Radicalismos não tinham vez. Ela ponderava.
Mandou Francisco embora. Ou foi mandada, nem lembrava mais. Quando encontrou Antonio, Roberta, Josefa, outro Francisco, Marcelo, Emílio, João, Catarina... Gustavo. Só parou nele, talvez por alguns dias, talvez pra sempre. Mas ele estava no coração e na merda da mente dela. Não saia de la nem por decreto, também pudera, com aquela convivencia louca. Os papéis se invertiam entre eles, ela era mulher ele homem, ela homem ele mulher.
Uma ligação louca, vontade inevitavel de estar perto, de cuidar. Mas, ela estava confusa, insegura de si.. pela primeira vez, mal sabia como agir com aquele ser tão amavelmente odiavel. Cada dia ela percebia nele algo diferente, o sorriso mudara, o olho penetrava mais. Mas o pior era o beijo, ou a falta deste, quando se beijavam ela sempre clamava, quase implorava por mais. Em troca de nada, ou de um constrangimento qualquer.
O problema é que Gustavo era seu amigo. Ou a solução. Tanto melhor ou pior.. se ele nao fosse amigo talvez estivesse mais em carne, mas está mais em espirito. O que seria melhor, ter sua carne mas não te-lo sempre, ou te-lo sempre mas raramente ter pouco da sua matéria? Mariana preferia a segunda opção, mas as vezes as brazas interiores dilaceravam seus sentidos, botando o desejo em primeiro lugar! Era hora de parar. Ela não aguentava mais a falta de toque, a indiferença. O olho dele nao estava no dela quando precisava estar, quando sua pele fervia para que ele a tocasse, ele nao estava. Eram fim ou início afinal? Fim do que mal começou, ou início do que estava por vir?
Mariana não queria mais saber, hoje ela só senta no bar, bebe, bebe, fala e bebe. Faz uns trocadilhos, tira umas notas, encanta-se com a mesma facilidade que desencanta-se. Pouco importa, ela vai dar pro próximo que aparecer pra suprir a falta que ele faz, ou pra preencher o vazio que ela mesmo se acometeu. "

Apenas indentifique-se.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mulheres indomáveis: revolta submetida.


" Adélia era apática, sem sal, sem graça. Aos olhares críticos passava batida, não formava opnião, não opnavam sobre ela. Adélia era cotidiana, rotineira, nem amarga e nem picante.
Se sentia não desejada, por isso só usava roupas claras (pra não provocar), trabalhava como funcionária pública, pelo menos era inteligente, mas nem tanto. Sua vida era cinza, bege, e agora nude por que estava na moda. Todos os dias acordava cedo, pegava um trem, trabalhava só por pura necessidade, voltava e cozinhava para dois. Só que ela estava sempre sozinha. Então, colocava dois pratos a mesa e quando ja tinha comido todo o seu resmungava coisas como "não gostou querido? prometo melhorar amanhã... ah, o que? voce quer torta de amoras para a sobremesa, sem problemas", ela se imaginava sendo subordinada, comandada, dominada. Mas dessas palavras a única coisa que sobrava eram as partes "nada dada". Amélia não se doava, por se subestimar, achava-se sempre feia demais, morna demais, nada demais. Era, na verdade, repetitivamente indiferente.
Um dia um homem entrou na sua vida, o seu total oposto. Aventureiro, intenso, barbudo. Veio para desmoronar uma montanha de convicções, e não se sabe como ele conseguiu aguentar as impertinencias de Amélia, que sistematizava até o beijo dos dois. Eles só poderiam durar no máximo 2 min e 56 segundos, afinal, pra que mais? Amélia se perguntava isso por ser total desconhecida sexualmente, uma ignorante na matéria carnal. Nunca havia sido explorada, não conhecia a si própia, só impunha séries de limites.
Um dia Eduardo, o oposto, chegou bêbado em casa sua casa, arrancou-lhe o vestido branco com laços azuis, jogou com violência contra a cama, explorou seu corpo inabitado. Sim, inabitado, porque nem ela mesma estava ali, seu corpo era um total vazio de emoções um vácuo de músculos e ossos. Ele a penetrou, não só fisicamente, acordou-a de um terrivel desvaneio em que ela havia vivido sua vida toda. Quando terminaram viraram-se cada um para um lado, um dormiu a outra chorou.
A noite toda ela chorou imóvel, ali estava a dominaçõa que ela tanto queria, mas não o amor. Não o amor, ela não conseguiria suportar o amor dele, porque havia nascido para sofrer. E havia nascido para si própia, e sua inabitação. No dia seguinte, Eduardo acordou surrando palavras amorosas, ela havia arrumado as coisas dele e disse apenas para ele partir e nunca mais voltar, ele assim o fez. Aquela seria outra aventura pra ele, para ela seria a única.
Hoje, ás 21h, Amélia coloca a mesa para duas pessoas. Ela e sua alma, quando acaba de comer sua alma ainda não chegou, então ela pergunta "não estava bom querido? não? então vá tomar no cú", joga o prato no chão que se junta a sujeira de outros tantos pratos dos dias anteriores. Adélia não é mais Amélia, nem Ofélia. Não é mais santa, é louca. "


Mulheres indomáveis: Revolta submetida - Mayara Yamada Castro.

Apenas leia.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Chuva e estáura, e árvores, e eu.

Ontem me purifiquei.
Tudo começou com um simples olhar pela minha janela, fim de tarde azulado, ás 17 horas que tanto me atraem. Fui olhar sem muitas intenções, só por olhar mesmo, sentir a nostalgia bater... da janela do meu quarto, hoje, eu vejo o meu quintal, a primeira parte dele, ja reduzida, delimitada, engradada. Lá eu me vejo brincando com meus brinquedos, nas minhas viagens lunáticas e cotidianas dos meus seis, nove, sete anos. Vejo depois eu pegando sol em vez de ir pra aula! Vi como mudei, cresci, e não só fisiciamente. Eu evolui. Mas, eu sempre fui meio diferente, chegada á anormalidade e necessitada de companhia. Vejo eu e uma grande amiga imitande as spice girls e depois compondo uma música tão ridícula mas cheia de significados... e os imaginando num grande show, com uma platéia vibrante. Entre tropessos, quedas e reerguidas, hoje eu vejo que esse era o show da vida.. e ele passou rápido, não foi? Nessa parte do meu quintal, tem uma estátua hoje meio encoberta pelas plantas descuidadas, uma coisa meio jardim secreto pra mim.. e essa estátua, viu tudo. Me acompanhou, presenciou, testemunhou tudo que aconteceu. E enquanto eu olhava pela janela ela olhou pra mim e falou, " vem aqui... vem, aproveita! Tudo isso vai ficar tão distante, a familiaridade desse lugar só vai poder estar dentro de ti. Então, aproveita!" eu olhei pra ela e primeiro eu respondi " não... só de olhar daqui da janela do meu quarto já é o suficiente!"
Ai então começou a chover, aquela chuva belenense, chatinha...que eu tanto reclamei, e olha que eu não sou de reclamar, mas como eu reclamei dessa cidade! Que ingrata... falei, falei, falei e vou sentir falta afinal. É um fato, vou sentir falta. Talvez não da cidade... mas,, dos momentos, das pessoas, desse clima que só essa olhada pela janela poderia me trazer. Da minha janela, do meu quarto. Que no instante seguinte, talvez, nem seja mais...
Então a estátua olhou pra mim e falou de novo "não vais aproveitar essa chuva? Lembra de quando era só nós duas aqui? nós tomávamos muitos banhos de chuva... e eu te acompanhei em tudo isso, e agora? vais me abandonar? assim, sem ao menos se despedir? " E ai o peso na consciencia começou a falar também... me disse que eu não poderia ir embora sem isso e que aquele momento exigia muito mais do que aquela minima brecha de imensidão, aquela janela não era o suficiente afinal. Eu não podia mais ficar parada ali, então coloquei a cabeça pra fora e senti os pingos...mas ainda não era o que eu precisava, tentei colocar o corpo pra fora mas vi que não dava, ai eu hesitei.
E porque, logo eu, hesitar? Medo? Que loucura era essa... eu NÃO sou assim! Então eu corri, abri a porta do quarto e passei pelo corredor cheio daqueles quadros com olhos bem atentos em mim, desci as escadas que cai e pulei tantas vezes, passei por mais quadros, pelo chão, pelos sofás.. todos pareciam gritar "VAI!". A porta quase abriu sozinha pra eu passar... ai eu entrei, mergulhei com tudo naquilo.
Era tão GIGANTE e eu parecia tão pequena mas ao mesmo tempo tão singular. Como uma peça de quebra cabeça eu tinha que ser assim se não, não encaixava. Então eu deitei no chão, e deixei a chuva molhar, não me importando mais com a sujeira ou com o passado fincados ali, porque a chuva foi caindo e levando consigo tudo que eu tinha de ruim. Os sentimentos de medo, angustia, incerteza se esvaíram. A estátua olhou pra mim e quase inconscientemente disse "agora vai... segue teu caminho, busca teus objetivos. Mas, volta, volta que SEMPRE vais ter aqui teu porto seguro, vais poder pegar teu barco a velas que por mais que tenha viajado todo esse mundo e enfrentado as piores coisas, e oscilado nas piores tempestades... aqui tua ancora é sempre bem vinda. Busca teus horizontes, mas não esquece tuas raízes".
Então eu gritei, pulei, girei. E me senti livre pra partir, com a certeza e a esperança de retornar, não pra sempre, mas pra viver coisas como essas...


Assim... meio que... inesquecíveis.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Despentiando dois mil e dez

2010 tem sido avassalador, e eu me dei conta dessa definição pra esse ano que mal começou no meio de montes de gente suadas, encostando umas nas outras, com vontade unicamente de ser feliz e aproveitar o momento. Com uma música alta que estoura os tímpanos, álcool no sangue, idéias na cabeça, movimento no corpo. Uma vez me disseram que eu era avassaladora, e apesar de eu saber qual o significado da palavra, não entendia porque isso se encaixava comigo, nem com a pessoa que me disse, nem com o momento. Mas o momento pra ser avassalador é agora, porque o ano, o tempo, o espaço e a frente de tudo isso as PESSOAS estão sendo avassaladoras. Devastadoras.
Cada uma ao seu modo, tem mexido comigo e me tocado de algum jeito. Tudo isso muito transcedentalmente... E eu tenho gostado. Tudo que é desse jeito despenteia, arranha, desarruma, bagunça, muda, liberta e se entrega. Acho que tudo isso faz parte da verdadeira entrega, porque é impossivel ser levado se não se deixa levar.
Nas minhas resoluções pra esse ano, não tem muitas coisas concretizadas... só algumas que são certezas mesmo. Maaas, de um modo geral eu espero que esse ano despenteie.
Nada de cabelos formais, intocáveis, perfeitos. Torço mais pra que venham a informalidade, o toque, a imperfeição. Como um dread! Nada de escovas, pentiados sofisticados, baby liss. Que seja prático e simplório ao mesmo tempo que seja original e expetacular. A dificuldade está justamente em conciliar pontos tão extremos... Isso pra quem nao consegue enxergar um palmo a frente do nariz e tem torcicolo pra poder olhar para os lados se chama, impossivel. Mas pra quem tem mente aberta que explora todos os lugares e se for preciso olha até debaixo do queijo numa ratoreira só pra sentir a adrenalina isso quer dizer, facilitar as coisas.
Então se está se facilitando, não estou mais diante de uma dificuldade. É só um tipo de abrangencia que envolve tudo.. o bom e o mal, o certo e o errado, o pobre e o rico, a sorte e o azar. O dread e a franja. O mendigo e a burguesa. A paz e o caos.E quando se tem extremos, não se precisa de intermediários.
Eu sempre tive rejeição a intermédios, principalmente por não gostar que ninguem faça as coisas no meu lugar, que ninguem me represente, que ninguem me assuma...Talvez a abrangencia, resultando numa explosão quase perfeita para poucos, seja só uma teoria que eu gosto de me agarrar. Justamente por gostar dos extremos, dos opostos e por não aceitar meios-termos, por estar cansada de ficar na média, por desistir do seguro.
Eu odeio o em cima do muro, por não acreditar nele. Nínguem fica realmente assim, nesse ponto mediano, intermediário. Quem se diz estar em cima do muro é quem tem MEDO! De se assumir, de expor sua opnião. Medo de chocar, de ir contra as regras, de ficar moralmente desgastado.Quem fica nesse ponto apatico, ta querendo mesmo é fazer média. Não quer se meter, não quer se arriscar.
Mas eu prefiro perder cúmplices do que ter traidores. Então podem sair das suas tocas esse ano, que não procuro mais por uma quantidade estragada, apartir do agora busco sim quantidade, mas ela é diferente, é qualitativa. quantificativamente qualitativa.
Eu desejo que esse ano, nas proximas horas, minutos, segundos.. que as máscaras caiam! Chega de tanto fingimento, de tanta tentativa de se padronizar. Não existe um padrão de pessoas, um tipo, uma classificação. Mas isso se aplica a PESSOAS! e não estátuas em busca de uma perfeição inalcançável, para enfim serem colocadas em pedestais... Essas estátuas ainda tentam mostrar alguma humanidade perdida, fora do contexto. Não passam de mármore, cimento e barro.
Eu desejo esse ano me vestir do meu cabelo, não esconder as vergonhas, enfrentar os medos. E se isso acontecer mesmo, a minha única roupa vai estar despentiada!

sábado, 30 de janeiro de 2010

A árvore e a lua

Ontem fui presentiada. O meu presente não foi material, claro, porque se fosse não estaria falando sobre ele provavelmente... Foi um presente à minha alma. Energizante, transendental e explosivo.
Uma mistura, de pessoas, momentos, frases e certezas. Que ficaram marcadas na minha alma como cicatrizes, sempre que eu buscar por um momento de segurança emocional.. talvez eu busque a noite de ontem na minha memória.
Primeiramente, quanto as pessoas, mais especificamente... quatro pessoas. Tão diferentes umas das outras, mas com pensamentos e objetivos, que por mais que esses respingem em todos os lados, como um pincel cheio de tinta sendo balançado perto de uma parede branca.. no final, esses objetivos convergem em um só ponto, que é o mesmo do pincel, ARTE.
Ela que por si só encheria o mundo de cores, sons, gestos, performaces, risos, musica, máscaras... mas ela não age sozinha, ela é tão generosa, tão gigante, tão abrangente... que ela precisa de veículos pra se disssipar, e felizmente, nós na nossa simples condição humana, somos esse veículo! Sorte de quem se descobre na arte, sorte de quem aceita que ela entre na sua vida, sorte de quem se permite expressar, ver, ouvir... viver através da arte! E essas quatro pessoas, me incluindo, permitem isso em suas vidas.
Momentos assim são eternizados, com coisas tão "normais" pra quem não é normal! Porque a normalidade não permite a transgressão de dançar num posto de gasolina, de descer do carro e eternizar, através de uma camera na mão, um lugar de tantas lembranças, quedas e ascenssões. O lugar da nossa própia descoberta, o nosso lugar. Ontem foram ditas muitas frases, muitas delas cantadas, interpretadas... e isso tudo me da a sensação de que talvez eu estivesse fora a muito tempo, e finalmente tivesse chegado em casa. É isso mesmo, casa.
Casa é um lugar onde as pessoas sentem a liberdade de ser elas mesmas. E ontem, eu fui o que sou, mais do que o normal... deixei transbordar minha essencia, pra assimilar a dos outros e fazer disso tudo uma grande coisa indefinida. Não consigo achar palavras pra descrever todos os sentimentos, emoções, toda a ENERGIA.
Enfim, as certezas. A parte mais marcante de tudo, foram as certezas. Acho que caiu um pouco mais da ficha que esse é o nosso destino, e a proximidade dele é muito complexa.
Porque o nosso destino, não está batendo nas nossas portas.
Ele se infiltra pelo buraco da maçaneta, contorna obstaculos, escala os muros, penetra pelas janelas, quebra os vidros, arranca as fechaduras, destrói a cerca elétrica, corrói o que não vai servir para o futuro, combate os nossos cães de guarda indomáveis... o nosso destino é agressivo.
Tive ontem um mero vislumbre dos próximos anos... Como o nosso vislumbre da lua, antes tão linda e inalcançável , agora é só o nossa próxima parada, se for preciso escalaremos árvores e montanhas, para alcançar o nosso limite, o universo.
E a imagem da árvore e da lua ja não nos parece triste, solitária.. porque existe uma corrente, um elo que nos envolve em uma grande energia que transforma tudo em perfeição.
Eis que estamos em busca incessante dela. Somos, até agora, corpos e almas SEDENTAS.


dedico esse texto, às quatro pessoas de ontem. e ao nosso universo particular e infinito.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Intensidade contestada.

A intensidade realmente me fascina, é o meu maior entorpecente. Tudo poderia acontecer intensamente, independente das circustancias, indenpendentemente.
Atos irremediaveis, desejos incontrolaveis, sabe... quando não dá pra segurar, não dá pra adiar. Todas essas definições são engolidas por uma única: intensidade. As vezes se espera semanas, dias, anos... tempo, pra que as coisas aconteçam e quando acontecem nem superam nossas espectativas, porque quando se tem muito tempo pra pensar, quando se cria muita estratégia, se perde o encanto, a espontaneidade.. a intensidade. Mas, quando não se espera, quando simplesmente acontece, sem freios, pudores, opressões. Sem culpa, sem arrependimento. Tem todo um significado que talvez um ano não tivesse tido, que talvez alguém demorasse décadas pra entender... mas bastava uma noite numa praia, um amanhecer entre pernas e barbas, um olhar penetrante: pra que tudo parecesse tão claro, tão simples. Só mais um passo a frente, e você cai no abismo do desconhecido.
Dizem que na escuridão, já que "perdemos" um dos nossos sentidos, os outros ficam mais aflorados. Então, são toques, texturas, sons, sussurros... bendita sinestesia! O desconhecido é assim, e quando parece que vai ficar melhor, muitas vezes acaba. Talvez temporariamente, talvez não.
Quem foi o infeliz que disse que intensidade tinha que estar diretamente relacionada a brevidade? Quer dizer que só porque foi intenso, não da mais pra aguentar muito tempo.. aquelas horas supriram todo o contigente de sentimentos e emoções que poderiam ser arrancadas, mastigadas e engolidas goela abaixo? Então acaba-se rápido, dura-se pouco.
Isso tudo é praqueles que acreditam que a vida toda, vão ter poucos momentos de felicidades explosivas, amores devastadores. Isso é praquelas que não se imaginam encontrando o paraíso, mesmo estando vivos, praqueles que nao veem o sol se por numa mistura de rosa, violeta, amarelo e laranja, praqueles que não sentem o cheiro de grama, e não respiram fundo o ar da manhã com ou sem neblina, pra todos aqueles que nunca deram um mergulho no mar pro sal purificar a alma. Pra todos que não tiveram grandes experiencias.
Eu me recuso a acreditar que a intensidade esteja em pequenos momentos, em breves relances de eternidade, que esteja só nas caixas de som ou só no atrito entre os corpos. Eu prefiro acreditar que ela está em tudo, dependendo de como se ve, se age e se prepara para ela.
Essa é a minha realidade imaginaria, meu paradoxo existencial. Insisto em ver as coisas como eu as imagino, e porque eu imagino eu vivo, e porque eu vivo, elas existem.

Portas entreabertas

Portas entreabertas me aguniam. Elas não são necessariamente um convite pra entrar, apesar de poderem ser, elas são na maioria das vezes fruto da distração ou do esquecimento de alguém.
As coisas em aberto, faladas por alto, indefinidas me dão uma sensação estranha. Quando estão relacionadas às minhas vontades, meus desejos a espera e a incerteza, não me satisfazem. Quando relacionadas aos meus medos e minhas inseguranças, elas os acentuam.
A paciência nunca foi a minha maior virtude, quando me deparo com essas portas entreabertas, tenho uma necessidade quase maníaca de fecha-las ou abri-las. E nesse momento me encontro num corredor cheio dessas portas insuportávies...
O problema de tudo ( e a solução também ), está nas escolhas. Uma sempre vai anular outra. Para cada uma, teremos uma renúncia tambem. É um ciclo excludente, como a vida. Ou como um corredor cheio de portas..Eu nunca renunciaria minhas própias escolhas, pra que a vida me levasse... chega a ser até absurda essa idéia de apatia com relação ao destino que as coisas tendem a ser levadas.
Ouvir aquilo que está nos mais intímo dos nossos desejos, desperta emoções intensas. Mas ouvir as possibilidades das nossas própias possibilidades serem concretizadas, com um tom de casualidade provoca reações muito mais incertas. Pra que a casualidade? Porque esse tom de porta entreaberta? quando o que a gente mais deseja é a concretização dos fatos. Odeio quando as pessoas me causam duvidas, e é ai que entra o mistério delas.. eu tenho uma relação de amor e ódio com esses seres misteriosos. Eu não preciso de mais duvidas do que as que eu ja tenho, e sinceramente elas estão pra doação, porque delas quero distancia! Mas não há como nega-las, e também eu não desejaria ter a resposta pra tudo, porque assim viver perderia toda a graça..
Então, viva as portas entreabertas! Porque um dia quando elas fecharem, outras vão se abrir, ou entao quando alguém girar a maçaneta do lado de dentro vindo na minha direção.. não virá por acaso. Até que alguém saia daqui deixando outra porta entreaberta, e sem respostas. Ai o ciclo volta a girar, que ele continue assim...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Madrugadas Convidativas...

A madrugada tem muito pra dar. É o momento mais mágico do dia, quando tudo realmente acontece.
Os sonhos são muito mais reais quando vividos nesses horários, tão perigosos, pecaminosos, tentadores. A madrugada vai ser pra sempre uma tentação pra mim, ela é convidativa, linda, imensa.. tem algumas que parecem que nunca vão ter fim, e por ironia do destino elas realmente não têm. Pode até ser que o sol venha como uma borracha gigante, quase esmagador, querendo apagar o que aconteceu, mas não... o que acontece de madrugada, é muito mais marcante e faz muito mais sentido, do que a luz que provoca uma cegueira nos sentimentos.
Foi durante algumas madrugadas inesquecíveis que ganhei muitos presentes, derramei muitas lagrimas, ri até chorar e amadureci. Felizmente, tenho tido boas madrugadas. Elas tem sido tão bem aproveitadas que as vezes tenho vontade de pular o dia e ir direto pras minhas horas preferidas, quem mandou eu ser tão noturna...
Mas, é que o dia aqui nessa cidade me cobra muito mais, me obriga a seguir algumas pegadas já muito apagas por mim, que não fazem mais sentido, o dia muitas das vezes é neurante.
Não acontece o mesmo com a madrugada, é impossivel colocar em palavras o quanto elas me deixam louca! Na maioria das vezes consigo ser tão mais eu, eu consigo me expressar melhor.. Ter conversas longas, com descobertas e sinais corporais. Minha tão amada comunicação, que apesar de estar no escuro acolhedor das minhas noites insanas, fica tão mais aflorada. São olhares, palavras, toques... não teriam o mesmo sabor se fosse tudo tão claro, tão explicito.
É dificil eu fazer um ar de mistério, mas eu adoro que façam isso comigo. Eu sou muito escrachada, o que sou mostro logo.. mas nas madrugadas, da pra se mostrar de um jeito diferente, não parece tão simples assim, parece que tem sempre alguma coisa a ser descoberta. Como um pote de queijo ralado embaixo do pano da mesa no meio da cozinha. Nínguem imaginava encontra-lo, nínguem nem ao menos espereva por isso, nem por nada... mas desde aquele momento, você não saíria de lá sem uma prova se quer.
No meu caso, provei demais até querer mais, e nao querer deixar pra trás.
Ahh.. essas madrugadas inevitavelmente inesquecíveis!

Vida comestivel

Eu sempre odiei que a minha vida tendesse a ser cotidiana, cheia de rotinas e mesmisses. Mas, muitas vezes me parece que as pessoas buscam isso como se fosse sua mais ávida missão. Tá certo que tem rotina que é boa, que nos satisfaz, mas quem consegue nunca mudar?
Fazendo um trajeto que tenho feito a mais ou menos um mes, todos os dias, eu fico observando as pessoas, como de praxe, eu acho que esse é o meu hábito preferido, a observação humana. É sempre tudo tão igual na vida daquelas pessoas, os vendedores de fruta esperam o sinal fechar para oferecer vida comestivel por entre os carros, na esquina do cemitério. Os vendedores coco chamam todas as mulheres que passam de "princesas", imagina só se o mundo tivesse cheio de princesas... que caos seria, uma mais egocentrica que a outra. Velhinhos, como eu os amo, caminhando na praça buscando um pouco de saúde em movimento, senhoras gordas e até crianças só andando com um semblante que nem sabem qual é o fim da estrada (e quem sabe?), mas que só continuam. Keep walking. O Walter, zelador do cemitério, sempre por la, aparando a grama para que o nosso terceiro maior musel de artes romanticas a céu aberto do mundo não seja engolido pelo esquecimento.
Logo as perguntas chegam, e elas vem em avalanches, não se contentam com simplicidade. São questionamentos complexos, pra mim, por eu não ter as respostas.
Tudo o que eu vejo daquelas pessoas é só como se fosse um pedaço, uma fatia de pizza: não é a pizza completa, mas já da pra ter uma idéia de como é o resto. Mas em vez de pizza, temos vida. Já da pra imaginar que a vida deles é só aquilo, todo dia eles se condenam em fazer coisas iguais...mas e se não for? e se for, qual motivo? Fico pensando se eles não mudam o agora, porque ja mudaram demais o passado, e agora temem. É tão mais facil ter medo do que coragem, cair no comodismo do que mudar alguma coisa, deixar nas mãos dos outros do que fazer por si mesmo.
Eu desejaria até o instante da minha morte que nunca agisse assim, mas será essa a nossa sentença de morte? O que realmente determina o que é a nossa ávida missão terrestre? Bom, quando eu chegar no céu ou no inferno, ou até a mesa de um bar hoje a noite, talvez eu tenha as respostas.. talvez não.