domingo, 10 de outubro de 2010

Você, só.


Às vezes penso que me desapaixonei (seria certo dizer isso?), mas aí vem aquilo que chamam de saudade, misturado com uma vontade absurda de você. Aquilo que dá nos fins de tarde rosados ou nos domingos que passamos em casa.
No primeiro caso por que nesses pôr-dos-sois (?) tudo é tão lindo que não tem como não querer a sua presença, não tem como não querer o seu jeito envolvente, o calor da tua pele morena suada, os teus pêlos, os teus gestos. Acho que nesses casos, não queria nem ouvir você falar, só admiraria tua beleza, e as nossas almas se misturariam tão silenciosas, sorrateiras sorririam da nossa sorte convergente.
No segundo caso é a sua falta que fala mais alto, é quando o tédio me domina e eu penso como seria bom se você tocasse uma música e cantássemos juntos o nosso amor. Como seria bom se ficássemos horas conversando sobre a evolução do mundo, ou sobre a natureza, ou sobre qualquer coisa. Como seria bom a nossa descoberta mútua, catalizada pelo nosso não-fazer nada.
E é uma vontade tão forte, parece um pouco com fome ou com sede. As vezes sinto-me como viciada em qualquer droga, que no meu caso seria você. É quase uma necessidade, na beira de um desespero.
Mas, aí no meio desses sentimentos ruins, vem uma sensação doce. É quase uma certeza, não, é uma certeza. De que no fundo, em algum lugar das nossas vidas estamos juntos. É assim como uma esperança de um futuro próximo, ou uma memória feliz de um passado distante.E, então, de súbito, percebo o quanto que ainda sou apaixonada. E o quanto que isso pode existir sem sofrimento, e simultâneo a outros sentimentos, à outras pessoas.
É reconfortante, acolhedor. É grande e poderoso. Me domina. Como você.
Só você.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um paradoxo sobre mim.


Eu sou dessas pessoas que não ligam para o tempo, não ando com relógios, esqueço meu celular nos lugares comumente, não me importo mesmo. Em uma frase consigo dizer muito "não", pois vivo negando o que algumas pessoas acham que é certo, e bloqueando idéias exteriores ao meu mundinho.
É, meu mundinho. Um tanto quanto vazio e um tanto quanto cheio. Pra mim na verdade é muito mais cheio, de mim mesma. Do meu egocentrismo aguçado. Mas, para alguns é um mundo vazio, solitário.
Eu também não me importo com a solidão. O que muitos acham tão amargamente torturante para mim é na verdade acolhedor. Nas noites a escuridão me abraça num silêncio que têm ao mesmo tempo volúpia e conforto.
Não que eu me importe muito com essa questão carnal, do desejo mesmo... estou muito mais para frígida. Até por que na maioria das vezes as relações interpessoais associadas ao desejo estão intimamente atreladas a certo desconforto. Por isso, a solidão me basta.
Nunca fui de ter relações de intimidade com outras pessoas, não sei se por não conseguir. Mas acho que está mais compactuado com minhas opções de vida.
Eu gosto do bastante, e ando justificando muito o bastante na minha vida. É uma forma de dizer que tenho o necessário para ser aceita por eu mesma. Não diria que tenho o necessário para ser feliz por que, na realidade viceral, nunca fui feliz. E desconheço essa tal de felicidade absoluta.
Pelo menos no universo que me encontro ela nunca existiu.
O que existe às vezes é um cigarro no fim da tarde, escondido, coisa proibida. É, até que eu gosto dessas aventurinhas. Me deixam com um quê de louca.
Existe também uns jornais velhos espalhados pelo chão, meu diário e nutella com morango.
Essa é a melhor forma de viver...
Só que essa, absolutamente, não sou eu.