domingo, 7 de novembro de 2010

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Constantemente me pego me traindo da pior maneira que poderia faze-lo.
Eu falo demais. E essa é a minha arma, a minha armadilha contra eu mesma.
Tenho uma necessidade vital, brutal e arriscaria dizer até viceral de dizer o que penso, e mais (e pior) dizer o que sinto. Não consigo me desatar de um pensamento subconsciente que me diz sempre que o melhor caminho é o há comunicação, o que desvaloriza segredos excessivos e joguinhos de sedução. E ocasionalmente com frequência me fodo. É tipo como se tivesse um botão daqueles enormes e vermelhos que não tem como não apertar escrito com letras brilhantes "fuck me", bem no meio da minha testa, e o pior é que não são as outras pessoas que apertam, é uma unica idiota, idealista irreversível, sonhadora invencível: eu.
É uma coisa meio "como pode alguém ser tão demente, porra louca, inconsequente e ainda amar?" que o Cazuza disse e que se encaixa perfeitamente com o meu perfil.
Mas, partindo dessa informação extremamente necessária, pode-se concluir por que eu sei que não deveria falar muitas coisas que eu falo.
Eu não deixei de acreditar que a comunicação é o melhor caminho, por realmente achar que se as pessoas falassem mais se entenderiam melhor. Mas, penso também que a gente deveria tomar mais cuidado ao expor nossas fraquezas, pra que elas não sejam usadas contra nós mesmos posteriormente.
Eu passei a valorizar os segredos mais do que antes, por que eles existem para não serem contados por isso, respeita-los é fundamental para uma boa convivência com eles.
E eu simplesmente abomino, tenho asco de joguinhos de sedução e me recuso a usa-los a não ser que a unica opção seja: usa-los ou me machucar.
Mas eu queria saber por que as pessoas dizem coisas querendo dizer outras? Ou agem de uma forma pra atingir um ponto que está mais a frente do que a ação presente?
Mais uma vez eu levanto mais questões do que as respondo, como Ibsen.
E isso é a melhor forma de sair de nem um lugar e chegar a lugar nem um.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Da cama para barcelona.

De repente é como se a minha cama fosse uma espécie de santuário, altar, igreja, qualquer coisa do gênero. E não por que tenha acontecido milagres e bençãos, é mais uma coisa atrelada ao sofrimento e à súplica.
Tenho pedido toda noite quando me deito pra que essa inquietude passe, e passe ligeiro, coisa que eu nem sinta. É um pedido tão cheio de alma, mas é tão irônico também, na medida em que penso que nesse mesmo lugar que suplico, foi onde tanto sofri.
Um dia você está em casa, na sua cama, e se sente tão bem com o conforto e no outro se vê aprisionada por memórias perturbadoras que te atacam na madrugada quente. Era como se nada fosse acontecer, mas parece que a gente não quer enxergar quando vem vindo a catástrofe. E por mais, mais fundo que a gente tente se cegar o corpo só nos ensina a ser mortal.
E nesse momento é que percebemos o quanto o corpo, as sensações, as reações corporais falam mais alto que nossa ridícula e minúscula razão. E aí é...

Vômito
Lágrimas
Dor


o diafragma se contorcendo

Cansaço
Angústia

Mágoa


a respiração ofegante o palpitar acelerado do coração

Decepção Frustração

coisas que não
quero
ouvir
nem
dizer

A dificuldade de expressar
os sentimentos
adormecidos





E tudo isso tão aqui.
tão perto.
tão eu.
tão.



Vou jogar minha cama pela janela, pedir aposentadoria, viajar pro caribe, beber um ano seguido, compras 20 ventiladores, adestrar lagartos, caçar borboletas, enxugar meias, levar tatuagens para passear, virar um homem, trocar de pele, tocar violão debaixo do pântano, viver em comunidade de águas-vivas, namorar o pinóquio, vou ser professora de yoga no Iraque, vou pegar a Vick, a Cristina, Toda a Barcelona. Mas juro, juro, que não vou enlouquecer. Não de novo.

domingo, 10 de outubro de 2010

Você, só.


Às vezes penso que me desapaixonei (seria certo dizer isso?), mas aí vem aquilo que chamam de saudade, misturado com uma vontade absurda de você. Aquilo que dá nos fins de tarde rosados ou nos domingos que passamos em casa.
No primeiro caso por que nesses pôr-dos-sois (?) tudo é tão lindo que não tem como não querer a sua presença, não tem como não querer o seu jeito envolvente, o calor da tua pele morena suada, os teus pêlos, os teus gestos. Acho que nesses casos, não queria nem ouvir você falar, só admiraria tua beleza, e as nossas almas se misturariam tão silenciosas, sorrateiras sorririam da nossa sorte convergente.
No segundo caso é a sua falta que fala mais alto, é quando o tédio me domina e eu penso como seria bom se você tocasse uma música e cantássemos juntos o nosso amor. Como seria bom se ficássemos horas conversando sobre a evolução do mundo, ou sobre a natureza, ou sobre qualquer coisa. Como seria bom a nossa descoberta mútua, catalizada pelo nosso não-fazer nada.
E é uma vontade tão forte, parece um pouco com fome ou com sede. As vezes sinto-me como viciada em qualquer droga, que no meu caso seria você. É quase uma necessidade, na beira de um desespero.
Mas, aí no meio desses sentimentos ruins, vem uma sensação doce. É quase uma certeza, não, é uma certeza. De que no fundo, em algum lugar das nossas vidas estamos juntos. É assim como uma esperança de um futuro próximo, ou uma memória feliz de um passado distante.E, então, de súbito, percebo o quanto que ainda sou apaixonada. E o quanto que isso pode existir sem sofrimento, e simultâneo a outros sentimentos, à outras pessoas.
É reconfortante, acolhedor. É grande e poderoso. Me domina. Como você.
Só você.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um paradoxo sobre mim.


Eu sou dessas pessoas que não ligam para o tempo, não ando com relógios, esqueço meu celular nos lugares comumente, não me importo mesmo. Em uma frase consigo dizer muito "não", pois vivo negando o que algumas pessoas acham que é certo, e bloqueando idéias exteriores ao meu mundinho.
É, meu mundinho. Um tanto quanto vazio e um tanto quanto cheio. Pra mim na verdade é muito mais cheio, de mim mesma. Do meu egocentrismo aguçado. Mas, para alguns é um mundo vazio, solitário.
Eu também não me importo com a solidão. O que muitos acham tão amargamente torturante para mim é na verdade acolhedor. Nas noites a escuridão me abraça num silêncio que têm ao mesmo tempo volúpia e conforto.
Não que eu me importe muito com essa questão carnal, do desejo mesmo... estou muito mais para frígida. Até por que na maioria das vezes as relações interpessoais associadas ao desejo estão intimamente atreladas a certo desconforto. Por isso, a solidão me basta.
Nunca fui de ter relações de intimidade com outras pessoas, não sei se por não conseguir. Mas acho que está mais compactuado com minhas opções de vida.
Eu gosto do bastante, e ando justificando muito o bastante na minha vida. É uma forma de dizer que tenho o necessário para ser aceita por eu mesma. Não diria que tenho o necessário para ser feliz por que, na realidade viceral, nunca fui feliz. E desconheço essa tal de felicidade absoluta.
Pelo menos no universo que me encontro ela nunca existiu.
O que existe às vezes é um cigarro no fim da tarde, escondido, coisa proibida. É, até que eu gosto dessas aventurinhas. Me deixam com um quê de louca.
Existe também uns jornais velhos espalhados pelo chão, meu diário e nutella com morango.
Essa é a melhor forma de viver...
Só que essa, absolutamente, não sou eu.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

For do umbuzeiro
















Ai, a esperança...
A esperança é detalhe. Um detalhe ao mesmo tempo desejado e não-desejado. É uma força que nos agarramos o mais forte que conseguimos para não jogar pela janela os nossos sonhos e ao mesmo tempo uma fuga para nossas desilusões. Ela brota singela, como um botão de uma flor no meio da caatinga, é um detalhe quase imperceptível dada uma primeira olhada geral àquele campo seco. Mas, que quando se aproxima, se admira, se observa e principalmente se percebe, faz toda a diferença. É o ponto mais bonito, o ponto mais extremo de contradição.
Quando a existência daquela flor, inicialmente mínima, é notada... Não se olha mais para nada ao redor. Esquece-se que existe mazelas no mundo, a seca passa a ser insignificante, a dor que antes latejava fortemente é agora somente um aviso que diz "cuidado: possível desilusão a vista" mas, quem pensaria em qualquer mal que aquela flor pudesse causar? Quem ousasse ser tão pessimista? Obviamente na hora se censuraria!
E então, de súbito aquela centelha de "final feliz" atrai de volta o verdadeiro sentido da sua dor: a especulação. E você, mesmo que sem querer, passa a achar mais graça no mundo, e dizer pra si mesmo "por que não?". Eu imagino que essa flor metafórica seja branca, como a cegueira... uma espécie de clichê maldito, digamos que uma luz no fim do túnel. De repente desvencilhar-se é tão difícil, e aquela sombra de ser realista e racional de uma semana atrás desapareceu.
E aquilo que sempre foi genuíno ao meu coração, ocupa seu lugar de origem. A paixão é coisa que se restabelece, é coisa predeterminada, é coisa enigmática. Não adiantaram os mil esforços para ir contra essa onda de turbulências dentro de mim, elas reviram meus órgãos, me colocam do avesso.
É um sofrimento tão comum, tão meu... que me pergunto: Será que sofro mais assim, ou quando não estou amando?

sábado, 25 de setembro de 2010

Pássaros negros no horizonte




Sem mais delongas, admito que o amor esteve aqui.
Passou breve, com um ar de apressado, como um cumprimento de longe.
Aquele cumprimento que você não espera encontrar, e que mudou o resto do seu dia.
Que nunca mais saiu da sua cabeça. Como a troca de olhares, rápido, porém profundo.
Um vislumbre de um pouco mais de poesia, acrescentou-lhe a vida.
Como numa praia deserta, que em um dia de frio, paira uma cor de azul e verde pálido,
E no horizonte um bando de pássaros negros infringem a neutralidade passiva.
As ondas espumantes quebram com vigor e nos inundam com sua devastidão
Trazendo uma sensação de aprofundamento na alma, uma coisa que você vive sozinho.
Essa paisagem é uma admiração solitária, como esse amor.
Faz-se mil rodeios e metáforas para compreender-se,
E no fundo não se compreende por completo.
Há uma ausência incomoda que reina no instinto da curiosidade
Que espera, inconscientemente uma resposta.
Um retorno inútil, uma réplica qualquer a sua dor.
Quem crava na alma essa encomenda de amar,
Não se preocupou com o seu depois,
Ou se o fez, não viveu o seu agora.
Passou, mas deixou rastros que só na névoa matinal desaparecerá despercebido.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Reticências


A gente se acostumou à insatisfação de uma forma totalmente nociva.
Hoje recebi uma notícia que eu não esperava, porém desejava muito que acontecesse... Minha atitude imediata foi de muita euforia, muita alegria. Ótimo, perfeito.
E então começaram a surgir mil planos e conseqüências que partiriam desse fato isolado e novo na minha vida, só que de todos os caminhos que poderiam ser tomados haviam muitos de tristeza, decepção, solidão afinal. E por que?
O que é esse drama sufocado? Essa tendência a se preocupar com alguma coisa que pode ou não se tornar real é uma constante indesejável. Pra começar que eu deixaria de VIVER o meu momento de felicidade, de criação de um futuro, de imaginação... era um começo de auto censura.
Então eu pensei comigo mesma, "não, dessa vez não vou deixar que meus pensamentos se precipitem em uma corrente negativa de insegurança". No decorrer do dia ainda tiveram momentos de fraqueza, que esses pensamentos invadiram minha mente, mas em outros eu cheguei a nem lembrar dessa nova situação que me tinha sido apresentada. Que por acaso poderá mudar muito as coisas... Mas p-o-d-e-r-á. De possibilidade. De 50% sim, 50% não.
E agora eu me sinto mais leve de ter pensado dessa maneira, qual é o problema da espera? Ela é assim tão insuportável? Ou será que a nossa geração imediatista a transformou em um fardo?
Existe também um lado bom de esperar, um lado lúdico... o "não saber" é de certa forma gostoso, tem uma pitada de aventura, de novidade. E a gente que vive falando que quer ser surpreendido, na maioria das vezes não se deixa ser. E nisso me incluo mas, como pensei hoje também, dessa vez eu quero fazer tudo certo. Ou quase lá.
"Deixa ser como será" Los.