segunda-feira, 27 de setembro de 2010

For do umbuzeiro
















Ai, a esperança...
A esperança é detalhe. Um detalhe ao mesmo tempo desejado e não-desejado. É uma força que nos agarramos o mais forte que conseguimos para não jogar pela janela os nossos sonhos e ao mesmo tempo uma fuga para nossas desilusões. Ela brota singela, como um botão de uma flor no meio da caatinga, é um detalhe quase imperceptível dada uma primeira olhada geral àquele campo seco. Mas, que quando se aproxima, se admira, se observa e principalmente se percebe, faz toda a diferença. É o ponto mais bonito, o ponto mais extremo de contradição.
Quando a existência daquela flor, inicialmente mínima, é notada... Não se olha mais para nada ao redor. Esquece-se que existe mazelas no mundo, a seca passa a ser insignificante, a dor que antes latejava fortemente é agora somente um aviso que diz "cuidado: possível desilusão a vista" mas, quem pensaria em qualquer mal que aquela flor pudesse causar? Quem ousasse ser tão pessimista? Obviamente na hora se censuraria!
E então, de súbito aquela centelha de "final feliz" atrai de volta o verdadeiro sentido da sua dor: a especulação. E você, mesmo que sem querer, passa a achar mais graça no mundo, e dizer pra si mesmo "por que não?". Eu imagino que essa flor metafórica seja branca, como a cegueira... uma espécie de clichê maldito, digamos que uma luz no fim do túnel. De repente desvencilhar-se é tão difícil, e aquela sombra de ser realista e racional de uma semana atrás desapareceu.
E aquilo que sempre foi genuíno ao meu coração, ocupa seu lugar de origem. A paixão é coisa que se restabelece, é coisa predeterminada, é coisa enigmática. Não adiantaram os mil esforços para ir contra essa onda de turbulências dentro de mim, elas reviram meus órgãos, me colocam do avesso.
É um sofrimento tão comum, tão meu... que me pergunto: Será que sofro mais assim, ou quando não estou amando?

sábado, 25 de setembro de 2010

Pássaros negros no horizonte




Sem mais delongas, admito que o amor esteve aqui.
Passou breve, com um ar de apressado, como um cumprimento de longe.
Aquele cumprimento que você não espera encontrar, e que mudou o resto do seu dia.
Que nunca mais saiu da sua cabeça. Como a troca de olhares, rápido, porém profundo.
Um vislumbre de um pouco mais de poesia, acrescentou-lhe a vida.
Como numa praia deserta, que em um dia de frio, paira uma cor de azul e verde pálido,
E no horizonte um bando de pássaros negros infringem a neutralidade passiva.
As ondas espumantes quebram com vigor e nos inundam com sua devastidão
Trazendo uma sensação de aprofundamento na alma, uma coisa que você vive sozinho.
Essa paisagem é uma admiração solitária, como esse amor.
Faz-se mil rodeios e metáforas para compreender-se,
E no fundo não se compreende por completo.
Há uma ausência incomoda que reina no instinto da curiosidade
Que espera, inconscientemente uma resposta.
Um retorno inútil, uma réplica qualquer a sua dor.
Quem crava na alma essa encomenda de amar,
Não se preocupou com o seu depois,
Ou se o fez, não viveu o seu agora.
Passou, mas deixou rastros que só na névoa matinal desaparecerá despercebido.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Reticências


A gente se acostumou à insatisfação de uma forma totalmente nociva.
Hoje recebi uma notícia que eu não esperava, porém desejava muito que acontecesse... Minha atitude imediata foi de muita euforia, muita alegria. Ótimo, perfeito.
E então começaram a surgir mil planos e conseqüências que partiriam desse fato isolado e novo na minha vida, só que de todos os caminhos que poderiam ser tomados haviam muitos de tristeza, decepção, solidão afinal. E por que?
O que é esse drama sufocado? Essa tendência a se preocupar com alguma coisa que pode ou não se tornar real é uma constante indesejável. Pra começar que eu deixaria de VIVER o meu momento de felicidade, de criação de um futuro, de imaginação... era um começo de auto censura.
Então eu pensei comigo mesma, "não, dessa vez não vou deixar que meus pensamentos se precipitem em uma corrente negativa de insegurança". No decorrer do dia ainda tiveram momentos de fraqueza, que esses pensamentos invadiram minha mente, mas em outros eu cheguei a nem lembrar dessa nova situação que me tinha sido apresentada. Que por acaso poderá mudar muito as coisas... Mas p-o-d-e-r-á. De possibilidade. De 50% sim, 50% não.
E agora eu me sinto mais leve de ter pensado dessa maneira, qual é o problema da espera? Ela é assim tão insuportável? Ou será que a nossa geração imediatista a transformou em um fardo?
Existe também um lado bom de esperar, um lado lúdico... o "não saber" é de certa forma gostoso, tem uma pitada de aventura, de novidade. E a gente que vive falando que quer ser surpreendido, na maioria das vezes não se deixa ser. E nisso me incluo mas, como pensei hoje também, dessa vez eu quero fazer tudo certo. Ou quase lá.
"Deixa ser como será" Los.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

As mãos e os cigarros que me inspiraram


Todo mundo precisa de um pouco mais de poesia.
Eu gostaria que as minha memórias fotográficas me inspirassem, cada vez mais e mais.
Como a natureza que é tão grandiosa que torna, nossa existência quase esmagadora. Com seu verde imponente em contraste com o balançar calmo das folhas. Com um outono amarelado combinando com o grande por-do-sol douradíssimo.
O que seria de mim se toda tarde fosse uma tarde no Central Park, no Pelourinho, em Salinas ou aqui pertinho no Arpoador? A vida é cheia de estímulos presentes e próximos, o importante é se aperceber deles...
As vezes as mãos podem ser subestimadas, ou colocadas em planos práticos. Mas são as mãos que trazem mais graça, leveza e força à nossa arte. São elas que tocam o Moonlight Sonata, que pintaram Monalisa, que encantaram platéias com sua energia, que bagunçam o cabelo e que fumam um cigarro. Tudo isso tão poéticamente.
Existem cenas do nosso dia-a-dia que precisam ser valorizadas, como o encontro daqueles olhares... um teatro cheio, um no palco e outro na platéia, o explodir das palmas nos ouvidos e os olhares se cruzam, assim como os destinos. O que nos faz conhecer alguém, apreciar, apaixonar, aprofundar? São os destinos cruzados. Eu gostaria de não deixar escapar nem uma pessoa que passe pela minha vida, por que sei que cada um tem algo à acrescentar, e por mais que eu queira, algumas pessoas já cumpriram seu tempo na minha vida e já me ensinaram tanto... Assim como já devo ter passado na vida de algumas pessoas deixando rastros de mim mesma.
Não quero passar despercebida, por que gosto de me atentar aos detalhes, me preocupo para que eles sejam notados em mim e nos outros. Ando meio desconexa, e é por isso que esse texto se faz tão confuso, desculpem-me por isso, mas de vez em quando o melhor é só deixar o pensamento sair.







E por mais sem sentido que isso possa parecer, talvez, nos detalhes o milagre da compreensão aconteça.