segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mulheres indomáveis: molhada e ardendo.


" Em mais uma tarde quente estavam os dois, em cantos de um apartamento pequeno. Distantes em um cubiculo, cada um em seu mundo individual de dúvidas, inseguranças, sentimentos. Extremos? não sei se chegava a tanto. Ela pensava frenéticamente, não estava tão calma como externava, muito interiorizada, ela respondia quando ele perguntava quase mecanicamente. Não tão robótica por que seu coração dava saltos toda vez que em uma pergunta distraída ela tinha um vislumbre dos seus malditos olhos.
Na verdade, o problema maior talvez fossem aqueles olhos que ela tanto buscava. Rebecca sempre dera importancia a olhares, e os admirava, mas nunca sentira necessidade de um antes. Agora sim. Toda vez que naquelas tardes aqueles olhos passavam por ela era como se tivesse 3 segundos ou menos pra afundar-se na alma dele. E que alma complicada!
Uma alma não muito solícita, não muito aberta, um mistério a ser desvendado. Toda vez que ela achava que começara a entende-lo, recebia em troca uma informação inesperada. Das duas uma ou ela estava se surpreendendo demais, ou havia idealizado tanto ele que agora tinha que desconstruir um personagem vindo diretamente dos seus desvaneios. Nem uma opção a agradara, ela devia estar vendo coisas onde simplesmente não existia nada. Como sempre, equivocada.
Já que não podia recorrer ao olhar todas as horas, o olhava desviar o rosto. Ele lia, olhava em outras direções. Seu olhar tinha mais medo, do que expeculação. Ele recuava, não é bem ignorar.. ou é? Olhou então pela janela, e desta viu outras mil e umas janelas. Cada uma com um contigente vital de outros destinos. Um lustre antigo, combinando com uma idosa solitária no andar de baixo. Brinquedos, vestigios infantis, um homem nú. Sol nas paredes e cortinas orientais.
Cansada olhou em volta, estava sozinha enfim. Mesmo que ele estivesse presente. Fazia um calor insuportável, e os dois suavam em bicas. Ela deitou-se no chão, suava tanto que uma poça foi seu agregando ao seu corpo, ele a viu e simplesmente deitou-se ao lado, indiferente. Ela recostou-se nele, molhada e ardendo. Ele até a acatou, mas como um objeto, um vazio de sentimentos que não eram levados em consideração. O suor fluiu de um para o outro, durante o toque.
Um afastamento brusco. Lágrimas. Incompreensão. Uma porta que se bate, um último vestigeo da sua roupa preta de luto pela existencia. Descendo as escadas correndo, andou sem direção até o metro mais próximo e desconhecido. Entrou em meio a um vagão lotado de almas vazias. Ficou de pé até a estação que deveria soltar e que quando chegou, sentou-se.
Foi procurar um rumo, que não existia. Foi até a última estação e voltou para a de perto da casa dele. Parou no portão da frente, analisou suas possibilidades e resignada pousou sua cabeça entre jornais e mendigos.
A espera é eterna. "

Apenas imagine.

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