quinta-feira, 8 de julho de 2010

Mulheres indomáveis: coroação lilás.


" Minha juventude transpassa por várias variações de humor, entre grandes depressões e euforias, eu encontrei uma pessoa, só uma que me deixava estável. Tinha uma barba mal feita, e é assim que eu posso descreve-lo melhor, por que aquela barba... ah, aquela barba mexia comigo de uma maneira indecifrável! Mexia com meus sentidos, de uma certa forma que meu humor, muito vacilante, ficava péssimo quando ele a tirava. Bons tempos. Mas de toda minha jovialidade, de todo meu gás, de todos os meus dias e estações, uma noite me prende em memórias deliciáveis e um tanto quanto nostalgicas. São a semente que o tempo plantou em mim.

Tinha um apartamento em reforma, um colchão com plástico ainda, um quarto branco vazio, fazia frio... nós dois prometemos não ultrapassar nossos limites, queriamos só ficar juntos.Conforme o tempo foi passando ou a nossa presença, um para o outro, era muito forte. Ou o nosso desejo era incontrolável. Fomos ficando cada vez mais próximos, minhas terminações nervosas clamavam pelas dele, e acho que era recíproco.

Minhas pernas abertas formavam um trono, ele parecia seguir para sua coroação... seu rosto afundou em um trono sedento. O movimento era quase que poético, sincronizado, perfeito. Era uma névoa lilás, que envolvia aquele gesto com tanto significado. Eu não precisava de mais nada, tinha minha matéria totalmente satisfeita e um lúdico, um irreal que passava na minha mente.

Um príncipe, coroado com meu clitóris.

Depois deitados, sentindo a respiração um do outro, pensei que não conseguiria sair dos seus braços nunca mais, que adormeceria em sono profundo, e que meus sonhos seriam cheios de margaridas, chá das cinco, biscoitinhos. Seria de época, seria branco. Eu estava em um tipo de extase que tudo que eu mais amava iria brotar em meus pensamentos, mas aquele dia estaria em um ponto mais alto, estaria muito mais brilhante.

A dimensão era outra, parecia que não faria parte de mais nada, que não pareceria com mais nada. E, fatalmente, não pareceu. Eu sonhei com aquela noite, vários sonhos inquietos, várias vezes acordei suando, revoltada e outras conformada com aquilo que ja tinha sido, e com o que viria. Ninguém mais bateu na minha porta e me ofereceu tanto como aquele dia. E só não tenho muito o que falar o fato, o acontecimento, é simples, pequeno mas dimensional. " depoimento de C., uma idosa nostálgica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário