quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mulheres indomáveis: revolta submetida.


" Adélia era apática, sem sal, sem graça. Aos olhares críticos passava batida, não formava opnião, não opnavam sobre ela. Adélia era cotidiana, rotineira, nem amarga e nem picante.
Se sentia não desejada, por isso só usava roupas claras (pra não provocar), trabalhava como funcionária pública, pelo menos era inteligente, mas nem tanto. Sua vida era cinza, bege, e agora nude por que estava na moda. Todos os dias acordava cedo, pegava um trem, trabalhava só por pura necessidade, voltava e cozinhava para dois. Só que ela estava sempre sozinha. Então, colocava dois pratos a mesa e quando ja tinha comido todo o seu resmungava coisas como "não gostou querido? prometo melhorar amanhã... ah, o que? voce quer torta de amoras para a sobremesa, sem problemas", ela se imaginava sendo subordinada, comandada, dominada. Mas dessas palavras a única coisa que sobrava eram as partes "nada dada". Amélia não se doava, por se subestimar, achava-se sempre feia demais, morna demais, nada demais. Era, na verdade, repetitivamente indiferente.
Um dia um homem entrou na sua vida, o seu total oposto. Aventureiro, intenso, barbudo. Veio para desmoronar uma montanha de convicções, e não se sabe como ele conseguiu aguentar as impertinencias de Amélia, que sistematizava até o beijo dos dois. Eles só poderiam durar no máximo 2 min e 56 segundos, afinal, pra que mais? Amélia se perguntava isso por ser total desconhecida sexualmente, uma ignorante na matéria carnal. Nunca havia sido explorada, não conhecia a si própia, só impunha séries de limites.
Um dia Eduardo, o oposto, chegou bêbado em casa sua casa, arrancou-lhe o vestido branco com laços azuis, jogou com violência contra a cama, explorou seu corpo inabitado. Sim, inabitado, porque nem ela mesma estava ali, seu corpo era um total vazio de emoções um vácuo de músculos e ossos. Ele a penetrou, não só fisicamente, acordou-a de um terrivel desvaneio em que ela havia vivido sua vida toda. Quando terminaram viraram-se cada um para um lado, um dormiu a outra chorou.
A noite toda ela chorou imóvel, ali estava a dominaçõa que ela tanto queria, mas não o amor. Não o amor, ela não conseguiria suportar o amor dele, porque havia nascido para sofrer. E havia nascido para si própia, e sua inabitação. No dia seguinte, Eduardo acordou surrando palavras amorosas, ela havia arrumado as coisas dele e disse apenas para ele partir e nunca mais voltar, ele assim o fez. Aquela seria outra aventura pra ele, para ela seria a única.
Hoje, ás 21h, Amélia coloca a mesa para duas pessoas. Ela e sua alma, quando acaba de comer sua alma ainda não chegou, então ela pergunta "não estava bom querido? não? então vá tomar no cú", joga o prato no chão que se junta a sujeira de outros tantos pratos dos dias anteriores. Adélia não é mais Amélia, nem Ofélia. Não é mais santa, é louca. "


Mulheres indomáveis: Revolta submetida - Mayara Yamada Castro.

Apenas leia.

2 comentários:

  1. eras May, sem sacanagem eu adorei! parece um enredo de peça, sei la..um diario contado por terceiros, adorei serio!
    Teu dom, com a habilidade com as palavras é nato, serio. beijo

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  2. se tu um dia resolvesses parar de escrever, seria imperdoável!
    ps: nao to brincando viu? hahaha =)
    beijo

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